quinta-feira, 16 de junho de 2016

“Gabriela: a princesa do Daomé” e “Ciça e a rainha”

Leitura comparativa dos livros “Gabriela: a princesa do Daomé” e “Ciça e a rainha”




É sabido que por séculos os negros foram submetidos à um processo de segregação e silenciamento dentro do corpo social. O reflexo dessa dinâmica social pode ser também visualizado na literatura, visto que a maioria das obras literárias existentes não trazem a figura do negro, e quando abordam geralmente é de forma estereotipada. Atualmente muitos autores vêm se conscientizando sobre esta problemática de invisibilidade dos negros na literatura.
No livro “Gabriela: a princesa do Daomé”, a autora Marta Rodrigues conta a história de uma menina de grandes olhos pretos e cabelo com muitas trancinhas. Quando está em um ônibus com a mãe e o irmão, a caminho de um teatro de bonecos, Gabriela faz uma nova amiga, uma mulher que está a caminho do trabalho, e conta a ela histórias sobre a sua família. A exemplo como o seu pai, um fotógrafo alemão conheceu a sua mãe.



Em “Ciça e a rainha”, a autora apresenta a história de uma menina filha de colhedores de café, boias-frias, que perdeu uma perna em um acidente de caminhão quando trabalhava colhendo café. Em seguida Ciça perde a mãe e acaba sendo levada para um abrigo de meninas, onde ela terá a chance de retomar seus estudos. Nesse abrigo, a menina conhece a rainha da Suécia, que pela descrição da autora ela simboliza uma esperança para a menina.
A partir dessas obras, é possível enxergar que as autoras trazem uma proposta divergente das tradicionais. O protagonismo é exercido por duas meninas negras, que têm suas características físicas descritas de forma positiva, natural, sem aparentes marcas de estereótipos. É visível que os dois livros trazem muitas similaridades, as histórias abordam desafios da realidade em paralelo a fantasia sempre presente nas obras infantis e infanto-juvenis. No entanto, outro ponto em comum mas passível de questionamentos nas obras em questão é o heroísmo atribuído aos personagens brancos e europeus.
Por todos os aspectos analisados, avalia-se que a proposta das duas autoras e dos ilustradores é fundamental no processo de visibilidade dos negros no espaço literário, dar voz a meninas negras é um ato de subversão aos diversos padrões preconceituosos e reducionistas enraizados na sociedade. No entanto, é importante que obras como estas passem por um processo de naturalização, para que as mesmas não se tornem um recorte somente de um grupo social, ou permaneçam indiretamente reproduzindo preconceitos. É importante que os autores de livros infantis busquem abordar a realidade e seus problemas, mas de forma com que não perca a fantasia, é importante compreender que a literatura pode ser uma ferramenta para desconstrução de preconceitos, por isso a mesma deve abrir espaço para representações de todos os grupos étnicos, para que assim a diversidade pode ser naturalizada.






Universidade do Estado da Bahia
Discente:  Talita Francisca Alves de Souza Silva
Curso de Extensão: Literatura Infanto-juvenil

Docente: Renata Nascimento

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