A arte de contar historia no século XXI: tradição e
Ciberespaço do ano de 2006 lançado pela editora Petropolis, RJ de Cléo Busatto
tem como orelha “os contadores de historias de que se fala neste livro têm
tanto a ver com as fogueiras pré-historicas quanto com a luz da tela do
computador.temas como oralidade e performance,
tradição e ruptura, arte e imaginário são aqui repensados a partir de um
ponto de vista singular, provocativo e cheio de frescor.
Quem são os narradores que hoje aparecem por todo
lado nas grandes cidades do Brasil- em escolas, feiras, bibliotecas, hospitais,
teatros? Que buscas eles representam? De
que necessidades pessoais, sociais e culturais eles brotam? O que há de comum
entre eles?
Este livro, de pesquisa poética, muito ajuda a
entender por que hoje, na contracorrente da aceleração tecnológica, tantas
pessoas conseguem criar espaços no cotidiano em que possam ouvir e contar
historia. Ajuda também a trazer legitimidade ao tema da narração oral no espaço
da cultura urbana contemporânea. Cléo Busatto, alem de atriz, escritora e
criadora de projetos pioneiros de narração oral em suportes digitais, é também
(e talvez primeiramente) uma narradora das mais inspiradas. Daí a voz leitora,
cheia de poesia, que marca o texto”.
Desta obra a parte que foi estudada durante o curso
foi o capitulo três que tem como tema a contação de historia no século XXI: um
encontro mediado pelo suporte digital, por muito tempo as historias só eram
contadas em rodas de contação, a partir da era digital esta pratica tornou algo
mais fácil, pois tempos historias em DVD’s áudio book enfim uma infinidade de
suportes que possa passar a historia, é claro que com isso as obras sofre
alterações, pois muda a entonação, as pessoas acaba adaptando os textos enfim.
Foi citado também a historia de Joãozinho e Mariazinha que está no livro como
anexo:
Joãozinho
e Mariazinha
Era uma vez um casal que tinha muitos filhos. Eles
eram tão pobres que faziam fogo no chão e ao redor do fogo faltava lugar para
duas crianças: Joao e Maria. Certo dia o pai chegou e disse:
-vocês vão passear comigo. Vamos buscar mel-de-pau
na floresta.
Quando chegaram lá, ele continuou:
-agora vocês ficam aqui quietinhos e esperam por
mim. Eu vou atrás de uma colmeia e volto logo. Quando escutarem eu batendo na
madeira, vocês vão ao meu encontro.
Mas o pai mentiu para as crianças. Ele amarrou um
porongo na copa de uma arvore, e quando o vento batia nos galhos e fazia
dooommmmmm, dooommmmmm, dooommmmmm. As crianças ouviram o barulho. João disse
para a irmã:
- escute só. É o papai tirando mel-de-pau.
As duas crianças seguiram o som e ao chegar no local
não encontraram o pai, percebemos que o barulho vinha do porongo amarrado na
arvore. Elas se deram conta que foram abandonadas na floresta. Avistaram uma fumaça
subindo da chaminé de uma pequena casa. Foram até lá e através da vidraça
enxergaram uma velha que assava biscoitos. João pegou um pedaço de pau, quebrou
a ponta de forma a fazer uma espécie de gancho. Enfiou o pau pela chaminé até
alcançar o forno e assim conseguiu pegar vários biscoitos, que ele e a irmã
comeram apressados. Maria ria da forma gulosa com que seu irmão comia os
biscoitos, e dava risada. João ralhou a irmã e disse:
-fica quieta, Maria, que a velha escuta e vem atrás
de nós.
Mas Maria continuava a rir. Não tardou e apareceu a
velha. Ela sorriu e exclamou:
- Venham aqui. Venham aqui, crianças. Eu vou matar
uma leitoa para assar. Querem ver como se faz?
As duas crianças entraram na casa. Mais que rápido a
velha apanhou os dois e trancou dentro de uma caixa. Diariamente lhes dava
muitos biscoitos para eles engordarem rápido. Ela dizia:
-dá o minguinho, João. Quero ver se seu minguinho já
está gordinho.
Mas o que o menino mostrava pra velha era uma rabo
de rato. A velha olhava para aquilo, suspirava e dizia a contragosto:
-Ih! Tá magrinho, magrinho.
Maria, danada que era, soltou o rato,e João teve eu mostrar o seu dedo minguinho. Quando a
velha novamente ordenou:
- Dá o minguinho, João. Quero ver se o seu minguinho
já esta gordinho.
Olhou pro dedo do menino e exclamou satisfeita:
- Agora sim tá gordinho, gordinho.
Tirou o João e Maria da caixa e mandou as crianças
irem buscar lenha no mato dizendo:
- Vou fazer um fogaréu para assar a leitoa.
Ao chegarem no mato João e Maria encontraram outra
velha. Era a Nossa Senhora, mas isso eles não sabiam. Ela se aproximou
carinhosamente e falou:
- Aonde vocês vão, meus netinhos?
- Vamos apanhar lenha pra vovozinha. Ela vai assar
uma leitoa.
- Não é uma leitoa que ela vai assar. São vocês.
Escutem só : ela vai mandar vocês fazerem um fogo e mandarem vocês dançarem em
volta dele. Diga que não sabem e peça para ela mostrar como se faz. Nesse
momento empurrem a velha na fogueira. Quando estourar a cabeça gritem:
“cocô-rompe-ferro”. Quando estourar um peito: “ cocô-gigante”, e quando
estourar o outro peito: “cocô-corta-vento”.
Lá foram as crianças com a lenha, fizeram a
fogueira,e quando a velha mandou que as crianças dançassem so redor eles
responderam:
- Nós não sabemos como se dança, avozinha. Mostre para
a gente como se faz.
Ela resmungou e começou a dançar. Rapidamente as
crianças empurraram a velha nas brasas. A cabeça da velha deu um estouro e eles
gritaram:
- Cocô-rompe-ferro.
E apareceu um cachorro bem grande.estourou um peito:
- Cocô-gigante.
Outro cachorro grandalhão. Estourou o outro peito:
- Cocô-corta-vento, e outro cachorro surgiu.
Foi isso que aconteceu. Os três cachorros receberam
um pedaço de pão, e enquanto a velha assava, ela gritava:
-Água meus netos.
E as crianças.
- Azeite minha avó.
E jogava azeite na velha.
- Água meus netos.
- Azeite minha avó.
A velha
morreu. Eles saíram pelo mundo seguidos pelos três cães. Lá pelas tantas Maria
ficou com sede e ordenou que João fosse buscar água num poço fundo. Ele desceu
pelo cipó e ordenou:
- Quando eu puxar o cipó você me sobe.
Maria era uma menina muito má; por isso, quando João
sacudiu o cipó, ela não puxou o irmão para cima. Deixou o coitado dentro do
buraco. Passou por ali o caipora e levou Maria com ele. Enquanto isso os três
cachorros foram cavando, cavando, ate abrirem uma valeta que chegava ate o
poço, por onde João pôde sair. O Menino procurou pela irmã, mas não a
encontrou. Anda que anda encontrou uma moça, a filha do rei, à beira do rio,
porque ia ser devorada por uma serepente-de-sete-cabeças.
Todos os dias, naquela aldeia, era enviada uma moça
para servir de alimento ao monstro. Caso ele não recebesse a vítima devoraria
todos os moradores da aldeia. A moca que foi a sortuda do dia exclamou:
- Vai embora, Joãozinho. Se a serpente lhe encontra
ela lhe devora.
Mas João decidiu ficar e enfrentar o monstro. A
princesa chorou e uma lagrima caiu no roso de João. Ele acordou e matou a
serpente. Os cachorros ajudaram. A princesa cortou as sete línguas da serpente,
amarrou-as num lenço e ofereceu-as para o João, que foi embora. No caminho
encontrou Maria e o caipora, que quis comê-lo. João disse:
- Ainda não. Espere-me dar três gritos.
O menino subiu numa arvore bem alta e gritou:
-
Cocô-gigante. Cocô-corta-vento. Cocô-rompe-ferro.
Mas Maria, danada que era tinha tampado os ouvidos
dos cachorros co cera e eles não escutaram o chamado de João. O caipora começou
a sugar a arvore, que foi se curvando, curvando. Nesse momento os cachorros
conseguiram tirar os tampões do ouvido e salvaram João das garras do caipora.
Passou por lá, naquele momento, um negro que roubou o lenço com as línguas da
serpente. Foi ao castelo do rei se dizendo o salvador da sua filha. O rei
respondeu:
- Ah, então você casa com ela.
Apareceu a princesa que tentou desmascarar o
bandido:
- Não, papai, não foi ele que matou a serpente, foi
o João.
O rei não acreditou na filha e ela teve que se casar
com o negro. Realizou-se o casamento e foram todos para o banquete. Quando a
princesa fez seu prato, eis que surge Cocô-rompe-ferro. Ele pega o prato da
princesa e tenta levar para João. Mas os soldados prenderam o cachorro. Veio
Cocô-gigante que também foi preso. A princesa dizia:
- É o cachorro do João. É o cachorro do João. Sigam
este cachorro. Nós vamos encontrar quem me salvou. Foi ele que matou a
serpente.
Seguiram Cocô-corta-vento e chegaram ate onde estava
João. Disseram que ele deveria casar com a princesa, mas João se esquivava
dizendo que estava muito sujo. O rei mandou uma roupa muito bonita para ele e
João casou com a princesa.
Sabe o que fizeram com o impostor? Pegaram cinco
mulas chucras e amarraram uma perna do negro no rabo da mula; o mesmo fizeram
com os braços e com a cabeça do homem. Depois soltaram as mulas.....
E João tá lá, vivendo até hoje, que é uma beleza.
Esta é uma historia, que propusemos pras cursistas
trabalhar com suas turmas mostrando esta versão e as varias outras que existe.
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